o mundo é grande, enorme.
nós somos pequenos ,mínimos, remotos !
Cada um de nós é um nada, um nada que se cruza com centenas de outros nadas diariamente .
vivo para as coincidências.
para aquele instante em que um nada se encontra com outro nada em situações distintas, horas distintas, humores distintos.
Se eu sou nada,
Se a rapariga que me lembra Portugal e vislumbro numa janela do metro é nada.
Só me resta sorrir
Quando a encontro na mesma paragem diária que eu.
Porque este nada juntou-se aquele nada.
De todas as pessoas que circulam num metro por dia, de todas as carruagens que o metro tem, da quantidade de possibilidades diferentes que poderiam ter acontecido.
Este nada cruzou-se com o outro nada no mesmo dia.
E isso, a mim, deixa-me a sorrir.
Porque mesmo sendo um nada, sou um nada que vive do acaso.
e vive para o acaso.
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
quinta-feira, 17 de novembro de 2011
.espera
Sentou-se à janela .
Tinha vestido as melhores roupas, o vestido imaculado , as meias novas,o sapato reluzia e o casaco ainda sem borboto.
Tinha guardado para uma ocasião especial.
Alisou o vestido com calma, decidida. Desde que tinha acordado que sabia.
Sentou-se à janela, viu mais uma vez o mundo a passar.
Sentou-se à janela, endireitou a espinha vertebral - senta-te direita filha! - inspirou aquele momento.
Sentou-se à janela. Desde sempre tinha controlado a sua vida.
Também tu serás controlada. Não precisava mais esperar, tinha chegado a sua vez.
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
A ler
"O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas.
A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino?"
[Mia Couto - "O Fio das Missangas"]
A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino?"
[Mia Couto - "O Fio das Missangas"]
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